24 de mar. de 2012


 

A lágrima de tristeza e o sorriso leve de saudade foram marcas constantes no velório do humorista Chico Anysio, que reuniu familiares, amigos e o público em geral neste sábado, no Theatro Municipal, Centro do Rio de janeiro. Eles falaram ao SRZD.comsobre o momento de despedida e homenagens ao comediante, que não resistiu a uma parada cardiorespiratória e morreu de falência múltipla dos órgãos, decorrente de choque séptico causado por infecção pulmonar. O humorista será cremado na manhã de domingo, no Cemitério do Caju. As cinzas serão espalhadas em sua cidade natal, Maranguape (interior do Ceará) e no Projac.
O caixão está aberto, com a bandeira do Vasco por cima. A mulher dele, Malga di Paula, estava ao lado do caixão, bastante abalada, e estava sendo confortada por parentes. O filho Nizo Neto, que fez o Ptolomeu na "Escolinha do Professor Raimundo", estava próximo da família e conversando com o prefeito Eduardo Paes. O local estava com muitas coroas de flores que foram enviadas por personalidades que não puderam comparecer à homenagem ,como Silvio Santos, o governador Sérgio Cabral, os atores Paola Oliveira e Joaquim Lopes, a ex-primeira-dama e o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e o comediante Dedé Santana.
Visivelmente abatida, a ex-mulher do humorista, Alcione Mazzeo, deixou o local do velório acompanhada de parentes.  Antes, ela deixou uma mensagem na rede social para o humorista. "Chico, descansa em paz. Obrigada por tudo que proporcionou a quem teve a sorte de conviver, de trabalhar com você e a todos que levou alegria com seu imensurável talento. A você, meu amor eterno".
Outra ex-mulher de Chico, a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, compareceu ao velório acompanhada dos dois filhos que teve com o comediante.
Carioca de coração, vascaíno e ícone
O irmão de Chico, Elano de Paula, muito comovido, não conseguiu falar na saída do velório "Não tenho nada para dizer a não ser que uma estrela se apagou. Mas tem muitas estrelas que continuam brilhando. Ele é eterno. O coração do irmão está morto de alegre, porque o Chico está em paz, sem sofrer", desabafou.
Chico Anysio era de Maranguape, município do Ceará, e veio para o Rio ainda criança. A característica do carioca e boêmio estava na personalidade do humorista, como acredita o ator Orlando Drummond, que fez o personagem Seu Peru, no programa "Escolinha do Professor Raimundo", da "TV Globo", onde Chico era o Professor Raimundo. "Chico é mais carioca que cearense", afirmou, dizendo que o humorista ficará para a história do humor brasileiro. "Não esqueço do Chico nunca! O nome dele vai continuar".
No lado de fora do Theatro Municipal ocorreu um princípio de tumulto na saída do músico Agnaldo Timóteo do velório, que foi assediado por fãs, curiosos e jornalistas, que tentaram chegar próximo do artista. Ele, que deu autógrafos em cima da foto de Chico Anysio, disse que o humorista é um ícone. "O Chico está para a arte assim como João Saldanha está para a política", afirmou, se referindo, técnico de futebol que conseguiu a classificação da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1970, no auge da Ditadura Militar, mas foi afastado por motivos políticos.
Público com fantasias cartazes
O público em geral começou a entrar por volta das 14h, mesmo horário que os artistas e autoridades começaram a deixar o local. Camila Brasil, 22 anos, trabalha no Centro e foi prestar homenagens ao humorista, a pedido do pai, mestre de obras, que não pôde comparecer porque estava trabalhando. "Eu vim em nome do meu pai, que, de tão fã, lembra de 202 personagens do Chico (o humorista criou 209)", enfatizou.
Uma senhora que veio de Maranguape, também do Ceará, segurava um cartaz dizendo que a mãe adorava Chico Anysio. "Ele alegrava todos os brasileiros. Fiquei triste com a morte, mas ele vai encontrar vários amigos, como a Dercy Gonçalves", disse Mirlene Tertuliano, 45 anos. "Eu gostava do Professor Raimundo, do Painho e da imitação que ele fazia do Ney Latorraca".
Valdir Dantas da Silva, que trabalha há um ano e dois meses com humor, veio de Itapipoca, no Ceará, para o velório vestido de Tiririca. "Vim homenagear meu conterrâneo. Ele era único e não terá outro. Temos que baixar o chapéu para ele, porque ele é o cara", disse, comentando que seu personagem preferido é o Coalhada: "Porque é um prato tipicamente cearense e que o Rio conhece como leite azedo. Ainda vou imitar o coalhada", brinca.
Um grande número de artistas passou pelo local do velório para a despedida, como os humoristas Orlando Drummond (o Seu Peru da "Escolinha do Professor Raimundo"), Berta Loran e Nelson Freitas Júnior, os atores Carlos Bonow e Othon Bastos e a cantora Rosemary. Outro comediante, Luiz Carlos Miéle, pediu autorização a Chico para fazer uma modificação na letra de "Rio antigo" (autoria de Chico e sucesso de Alcione) e foi atendido, mas não quis antecipar qual seria a mudança.
O ator Fábio Lago (o Baiano da primeira versão do filme "Tropa de Elite"), bastante emocionado, lembrou de quando conheceu o humorista aos 17 anos, em Ilhéus (Bahia): "Chico é um homem que engloba toda a arte. Nunca chorei tanto a morte de um artista, um gênio, uma pessoa que tinha uma vida irretocável. Tenho que chorar muito mesmo por quem me fez tanto rir".
"Chico representava tudo, ele era o rei do riso, deixa saudades e lembranças", afirmou outro fã, Jorge Luis Villela, que estava caracterizado de Roberto Carlos, cujo personagem preferido era o contador de histórias Pantaleão. E até repetiu o bordão: "É mentira, Terta?"
Um dos filhos de Chico Anysio, o ator e dublador Nizo Neto, falou em nome da família para agradecer o carinho dos populares: "Todo mundo está feliz pelo carinho. O maior legado dele é a obra, que é fantástica... Nossa... Que vida que esse cara vai deixar".

do SRZD

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